Diante das 400 demissões de trabalhadores da Pedretactor, o prefeito Daniel Camargo (PSB) teria declarado que
“... ACHA que apesar de as demissões assustarem, os trabalhadores vão conseguir
voltar ao trabalho antes de acabar o seguro desemprego". Segundo consta ainda, Camargo
teria arrematado, em expectativa numa espécie de quase vidência, que “... ACHA
que a partir do dia 1º, o comércio local poderá aumentar as vendas com as rescisões
do contrato de trabalho”.
“Opinião é igual a pedra
preciosa: dura no tempo. Se não dura é porque não é opinião, mas achismo”, diz uma
frase atribuída ao padre Fábio de Melo. Li também que o achismo é uma espécie
de praga. Ou seja, as pessoas formam "verdades" em cima
daquilo que elas acham. Uma espécie de incoerência que existe, quando alguém
tira uma conclusão apenas com base no que acha. Especialistas em educação
cristã afirmam o perigo do achismo em discussões bíblica, teológica ou doutrinária.
O certo é que o mercado de trabalho se encontra sob uma onda de
demissões. É o cenário em que o Brasil vive com o momento econômico, exceções talvez
ocorrendo em alguns poucos setores. Ontem (29), a Folha de São Paulo divulgou
informações importantes sobre o ajuste fiscal e o que ele afeta, com base em
pesquisa do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC), levantada com proprietários
ou responsáveis por gestão financeira de empresas ligadas ao comércio e
serviços em todo o país. Além do impacto negativo na economia do país, apontado
pela pesquisa, o estudo mostra que a retração da
atividade de vários setores da economia, como indústria, comércio e construção
civil, já levou ao fechamento de 244 mil empregos formais no acumulado de 2015,
e à redução de 452,8 mil postos de trabalho nos últimos 12 meses.
É bom lembrar que o desemprego é a segunda maior causa de
estresse entre os brasileiros, atrás apenas da violência. “A perda do emprego é uma crise familiar, e
não apenas pessoal”, afirma a psicóloga Natércia Tiba. Além do efeito nos negócios, sete em
cada dez empresários dizem as medidas do ajuste vai causar ainda mais impacto
no emprego: 26% afirmam ter que demitir. Nos serviços, quase 30% admitem que
terão de cortar pessoal; enquanto que no comércio são 23,1%. Neste terça-feira,
o grupo Raizen, teria demitido 600 trabalhadores na região, segundo divulga o
Jornal da Cidade, de Bauru. Portanto, devagar com o andor que o santo é de
barro.
Maquiavel entendia que em se tratando de poder, o achismo
não deveria ser algo de filósofo excêntrico. Governantes não devem se deixar
envolver pelo achismo, especialmente quando há um universo de informações
científicas disponíveis. Ou tem dados específicos, ou melhor silenciar. No
entanto, quem sabe Camargo esteja certo e todos os demais errados?
Comentários
com base em estereótipos, em chavões, no “achismo” ou no “ouvi dizer” costumam
tomar o lugar de temas sérios e ocupar largo espaço no imaginário social. No
entanto, o momento é de reflexão e seriedade.
Reginaldo Monteiro