30 junho 2015

EDITORIAL: A ignorância do “achismo”

Diante das 400 demissões de trabalhadores da Pedretactor, o prefeito Daniel Camargo (PSB) teria declarado que “... ACHA que apesar de as demissões assustarem, os trabalhadores vão conseguir voltar ao trabalho antes de acabar o seguro desemprego". Segundo consta ainda, Camargo teria arrematado, em expectativa numa espécie de quase vidência, que “... ACHA que a partir do dia 1º, o comércio local poderá aumentar as vendas com as rescisões do contrato de trabalho”.

“Opinião é igual a pedra preciosa: dura no tempo. Se não dura é porque não é opinião, mas achismo”, diz uma frase atribuída ao padre Fábio de Melo. Li também que o achismo é uma espécie de praga. Ou seja, as pessoas formam "verdades" em cima daquilo que elas acham. Uma espécie de incoerência que existe, quando alguém tira uma conclusão apenas com base no que acha. Especialistas em educação cristã afirmam o perigo do achismo em discussões bíblica, teológica ou doutrinária.

O certo é que o mercado de trabalho se encontra sob uma onda de demissões. É o cenário em que o Brasil vive com o momento econômico, exceções talvez ocorrendo em alguns poucos setores. Ontem (29), a Folha de São Paulo divulgou informações importantes sobre o ajuste fiscal e o que ele afeta, com base em pesquisa do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC), levantada com proprietários ou responsáveis por gestão financeira de empresas ligadas ao comércio e serviços em todo o país. Além do impacto negativo na economia do país, apontado pela pesquisa, o estudo mostra que a retração da atividade de vários setores da economia, como indústria, comércio e construção civil, já levou ao fechamento de 244 mil empregos formais no acumulado de 2015, e à redução de 452,8 mil postos de trabalho nos últimos 12 meses.

É bom lembrar que o desemprego é a segunda maior causa de estresse entre os brasileiros, atrás apenas da violência. A perda do emprego é uma crise familiar, e não apenas pessoal”, afirma a psicóloga Natércia Tiba. Além do efeito nos negócios, sete em cada dez empresários dizem as medidas do ajuste vai causar ainda mais impacto no emprego: 26% afirmam ter que demitir. Nos serviços, quase 30% admitem que terão de cortar pessoal; enquanto que no comércio são 23,1%. Neste terça-feira, o grupo Raizen, teria demitido 600 trabalhadores na região, segundo divulga o Jornal da Cidade, de Bauru. Portanto, devagar com o andor que o santo é de barro.

Maquiavel entendia que em se tratando de poder, o achismo não deveria ser algo de filósofo excêntrico. Governantes não devem se deixar envolver pelo achismo, especialmente quando há um universo de informações científicas disponíveis. Ou tem dados específicos, ou melhor silenciar. No entanto, quem sabe Camargo esteja certo e todos os demais errados?

Comentários com base em estereótipos, em chavões, no “achismo” ou no “ouvi dizer” costumam tomar o lugar de temas sérios e ocupar largo espaço no imaginário social. No entanto, o momento é de reflexão e seriedade.


Reginaldo Monteiro
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