A
Mantiqueira acordou de ressaca, amigo. Abraçada por uma cortina cinza. Juro que
ela revela um quê de arrebentação, como se eu visse o próprio mar. Sim, um mar
brabo que cobre montanhas em desconstrução, avançando sobre um playmobil de
pedra desse Vale, até chegar aqui, pertinho de mim, aos pés do Santorini.
Que
imagem tosca! — cê tá pensando aí, né não? Mas releve. Digo isso porque eu,
assim como a Mantiqueira nessa manhã escura, também dei por mim com uma cortina
cinza a me abraçar depois de uma noite trash, além de acordar com dor nas
pernas. Logo eu, que caminho regularmente, que faço musculação. Mas muito mais
pelo desajeito na forma de me sentar lá no bar da rua do Porto, que é bão,
bicho! Onde cachaças e brejas me botaram de venda e me fizeram acordar como um
pobre Chaplin manco.
Mas
ressaca é assim mesmo. Uma azeitona de empada. Se não a quer, que dispense a
empada e faça como meu amigo Gomes, que prefere uma coca gelada. Ultimamente
ando mais pra Ricardo (meu camarada chegado num uisquinho) que pra Gomes. Não
sem razão.
É
que outro dia me deparei com uma notícia curiosa nos jornais. Ela dizia que
quem tem o costume de beber, principalmente com os amigos, é menos estressado,
e tem mais chance de alcançar êxito profissional, em comparação com aqueles que
não bebem. No âmbito profissional, o cara que não bebe é visto com
desconfiança, parece que sua caretice num momento de descontração pode
atrapalhar futuros negócios.
Só
sei que não sei se faz bem ou não. A ciência diz que se for com moderação, bem
faz. Quem nunca ouviu a máxima que um cálice de vinho todos os dias é um santo
remédio pro coração? Meu saudoso vô Assumpção é prova viva dos benefícios. Quer
dizer, ele já morreu. Mas morreu bem, tomando sua cachaça todos os dias. É que
ele viveu muito e com uma lucidez impressionante. Quando a morte bateu na sua
porta, na rua Barão, ele a aceitou de bom grado. Nada de enrolação. Acho que
tomaram uma cachaça juntos e foram embora sem mais delongas.
Sergio Geia